
É comum, em tempos de crise política ou administrativa, vermos lideranças apegadas ao passado como desculpa para os próprios fracassos. Uma estratégia velha, desgastada, mas ainda infelizmente usada por aqueles que, diante do desafio de governar, se mostram despreparados. O discurso do “herdei uma máquina falida” já se tornou um verdadeiro mantra de quem não sabe, ou não quer, assumir a responsabilidade do presente.
A insistência em culpar o antecessor por todos os males atuais não apenas soa como imaturidade política — é, também, um indicativo claro de falta de projeto. Quem passa mais tempo criticando o que foi feito (ou não feito) anteriormente, do que propondo soluções concretas e inovadoras, revela o quão pouco se preparou para o cargo que hoje ocupa.
E mais do que isso: revela que talvez nunca tenha, de fato, planejado um futuro real para o povo que diz representar. Governar exige mais do que retórica. Exige ação. Exige presença. Um verdadeiro líder caminha ao lado do povo — não se esconde atrás de justificativas nem aponta dedos para trás enquanto o presente desmorona e o futuro se apaga no horizonte.
As promessas feitas durante a campanha, tão inflamadas e esperançosas, hoje ecoam vazias. Foram tantas, e tão repetidas, que o silêncio atual diante dos problemas soa como uma confissão de incapacidade. Justificar o injustificável virou a rotina de uma gestão que se debate entre discursos prontos e a dura realidade de não entregar o que prometeu.
No entanto, ainda há tempo. A política, como a vida, é feita de ciclos — e há espaço para uma virada, desde que haja humildade para reconhecer erros e disposição real para trabalhar. Mas é preciso pressa. O relógio não para e o povo está atento. Continuar neste ritmo arrastado, de medidas paliativas e desculpas recorrentes, é correr para o caos.
Representatividade exige responsabilidade. E liderança, antes de tudo, exige coragem: coragem de enfrentar os próprios limites, de ouvir a população, de mudar rotas e de arregaçar as mangas. Se isso não acontecer, o que hoje parece uma tempestade passageira pode se transformar em um vendaval que levará consigo qualquer chance de permanência ou legado.
No fim, quem vive do passado não apenas compromete o presente — condena, também, o futuro.
Apenas isso. Nada mais que isso.
Tudo pode acontecer. Inclusive nada