
Por Jairo Ferreira
Em tempos de crise institucional, descrença generalizada nas lideranças políticas e administrativas, há um tipo de comportamento que, embora não seja novidade, segue devastando o que resta de esperança na boa gestão pública: a arrogância.
A arrogância, quando alojada em cargos de poder, torna-se um veneno silencioso. Ela não apenas compromete o ambiente interno das instituições, como também afasta o gestor da realidade social, da escuta ativa e do senso de responsabilidade. O arrogante, convencido de sua superioridade intelectual ou moral, não se sente obrigado a ouvir, a ponderar ou sequer a respeitar as opiniões alheias. Ele se basta. E é aí que mora o perigo.
Nas estruturas públicas, onde a coletividade e o interesse social deveriam ser os pilares da atuação, a arrogância se torna um obstáculo quase intransponível. Gestores que ignoram sugestões, tratam subordinados com desdém e se recusam a admitir erros criam um ambiente tóxico — onde o medo, o silêncio e a desmotivação passam a dominar.
É comum vermos líderes públicos que, em vez de incentivar o trabalho em equipe, optam por impor sua vontade de maneira autoritária, como se o cargo lhes garantisse onisciência. Pior ainda quando essa postura é acompanhada por promessas feitas em palanques e não cumpridas na prática. O povo cobra, e com razão. Não há propaganda que sustente uma gestão baseada na vaidade.
A arrogância institucionalizada não apenas prejudica os funcionários públicos — que muitas vezes trabalham sob pressão e sem reconhecimento —, como também compromete o serviço prestado à população. Quem sofre com isso são, sobretudo, os mais vulneráveis, que dependem da qualidade e da eficiência do serviço público.
A falta de humildade é o avesso da escuta. E quem não ouve não aprende, não evolui, não governa — apenas manda. O resultado é o isolamento. O arrogante pode até acreditar que está agradando, mas, nos bastidores, nas rodas de conversa, nas urnas e nos corredores das repartições, ele é criticado, rechaçado e, mais cedo ou mais tarde, descartado. Porque o poder é passageiro, mas o legado — seja ele positivo ou negativo — permanece.
É necessário que a sociedade não naturalize esse comportamento. Precisamos de líderes que liderem com empatia, que saibam ouvir, reconhecer erros, compartilhar vitórias e construir pontes, e não muros. Arrogância nunca combinou com humildade, e sem humildade não se constrói política pública eficaz.
Que o arrogante, enfim, perceba: dias de glória se vão rápido. E, no fim, o silêncio da arrogância vencida ecoa mais do que qualquer discurso inflamado.
Apenas isso. Nada mais que isso.